TERAPIAS COGNITIVO COMPORTAMENTAL E BEHAVIORISTA RADICAL: SÃO DIFERENTES?


TERAPIAS COGNITIVO COMPORTAMENTAL E BEHAVIORISTA RADICAL: SÃO DIFERENTES?
terapia-cognitivo-comportamental


Eliane Falcone (UERJ)
A terapia comportamental parece estar atualmente dividida em duas posições: uma é defendida por aqueles que consideram o estudo de processos cognitivos um avanço enriquecedor para a abordagem comportamental tradicional aos problemas humanos (Dobson & Block, 1988: Freeman, Pretzner, Fleming & Simon, 1990; Hawton, Salkovskis, Kirk & Clark, 1989) e outra, representada por autores de tradição Skinneriana, entende que o enfoque cognitivo descaracteriza o modelo comportamental em suas bases filosóficas e teóricas (Theyer, 1992; Hayes, 1987; Alverez, 1991). Os representantes da primeira posição costumam ser chamados de cognitivo-comportamentais e os da segunda de behavioristas-radicais.
Embora ambos os enfoques apresentem agurmentações coerentes com os seus modelos ao apontarem as suas diferenças, tais diferenças parecem ser mais evidentes no plano filosófico do que no teórico, e inexistentes na prática clínica atual. Este artigo busca levantar algumas questões neste sentido. Antes, porém, torna-se necessária uma breve explanação sobre os enfoques cognitivo-comportamental e behaviorista-radical.
O final da década de 60 foi marcada pelo surgimento de insatisfações com a terapia comportamental tradicional, por esta não considerar os fatores cognitivos como imprescindíveis para compreensão e tratamento mais abrangentes de problemas clínicos mais complexos, tais como desordens de ansiedade e depressão. Além dos estudos de Bandura sobre aprendizagem vicária e auto-eficácia, que contribuíram para o desenvolvimento de pesquisas na área de cognição, modelos de tratamento tais como a Terapia Racional Emotiva de Ellis, o Treino Auto-Instrucional de Meichenbaum e a Terapia Cognitiva da Depressão de Beck foram se desenvolvendo e gerando interesses entre os profissionais de orientação comportamental (para uma leitura mais detalhada deste assunto, ver Mahoney, 1974; Dobson & Block, 1988; Hawton, Salkovskis, Kirk & Clark, 1989). O avanço das pesquisas que incorporam processos cognitivos aos modelos comportamentais conquistaram um número cada vez maior de adeptos (Dobson & Block, 1988) gerando o que mais tarde foi chamado por Mahoney de “revolução cognitiva” (Mahoney 1988, p.357 e 358). Atualmente, tratamento cognitivo-comportamental é utilizado na maioria das desordens encontradas na prática psiquiátrica (Hawton, Salkovskis, Kirk & Klak, 1989) e é o tratamento padrão utilizado internacionalmente, como se viu no último Congresso Mundial de Psiquiatria, no Rio de Janeiro, em junho.
A terapia cognitivo comportamental considera que os problemas psicológicos podem ser compreendidos em termos de sistemas de respostas intercalados: o cognitivo, afetivo/fisiológico e o comportamental. O modo como uma pessoa percebe o ambiente a sua volta (reação cognitivo) é seletivo e depende de um conjunto de regras e crenças adquiridas no desenvolvimento desta pessoa. As reações cognitivas influenciam e são influenciadas pelas reações afetivas, fisiológicas e comportamentais. Assim, nas desordens de ansiedade e na depressão, o indivíduo percebe e avalia a situação de forma distorcida, tendenciosa (distorção cognitiva), propiciando a ocorrência de afetos desagradáveis (angústia, desânimo, etc), de reações fisiológicas correspondentes (sudorese, taquicardia, tonteira, fraqueza, etc), e de comportamento (bloqueio, colapso, tremor, fuga, evitação, etc), que acabam confirmando as hipóteses negativistas acerca de situação e da auto-imagem (para melhor compreensão deste assunto, ver De Rubeis & Beck, 1988; Beck, Shaw & Emery, 1982; Beck & Emery 1985; Dobson & Block, 1988; Hawton, Salkovskis, Kirk & Klark, 1989; Freeman, Pretzner, Fleming & Simon, 1990).
Behavioristas radicais consideram que a ascendência da análise cognitiva na abordagem comportamental, é em parte, atribuída à dificuldade com que terapeutas do comportamento lidam com o behaviorismo e com as suas bases teóricas. Além disso, os princípios comportamentais mais conhecidos surgiram de experimentos com animais, que são diferentes de seres humanos, fazendo com que muitos terapeutas comportamentais se tornassem cognitivos. Embora as diferenças entre animais e seres humanos constituíssem um problema a ser resolvido no estudo do comportamento, a solução encontrada por estes terapeutas foi errada (Hayes, 1987).
O behaviorista radical tem sido confundido com o behaviorismo metafísico de Watson (Hayes, 1987; Thyer, 1992) que é também monista, mas exclui o mundo privado, uma vez que este não é publicamente observável. Contrários a esta posição, os behavioristas radicais seguem a linha Skinneriana, que admite o estudo científico de fenômenos privados. Assim, “… pensamentos não são substancialmente diferentes em virtude de sua natureza privada. Eles podem ter propriedades especiais porque são verbais, mas ainda são comportamentos” (Hayes, 1987, p.330).
Com base nesta proposição, os behavioristas radicais encontram uma forma de estudar as reações humanas fazendo uma distinção entre público e privado, em vez de físico e mental, considerando esta última como falsa e dualista (para uma revisão mais detalhada do assunto, ver Hayes, 1987).
Mantendo a ênfase na determinação ambiental, os behavioristas radicais procuram compreender as contingências que apoiam a relação entre pensamentos e outras formas de ação humana, através do estudo do comportamento controlado por regras ou controle verbal(Hayes, 1987; Alvarez, 1991). Deste modo, regras verbais produzidas pela comunidade social-verbal influenciam outras formas de ação humana (Hayes, 1987). As implicações clínicas desta proposição referem-se a possível distorção verbal que um indivíduo pode ter da realidade e de si mesmo, a partir de controle instrucional generalizado, mostrando efeitos nocivos no comportamento, mesmo quando as contingências são contactadas (Hayes, 1987; Alvarez, 1991). Isto é “tradicionalmente entendido como distorção cognitiva” (Alvarez, 1991, p.77). “A reestruturação cognitiva, por sua vez, seria reconhecida como uma forma de modificação de conduta verbal” (Hamitan, 1988; Hayes, Kohlenberg e Melacon, 1989, in Alvarez, 1991, p. 77). Hayes apresenta um belíssimo modelo de tratamento denominado “distanciamento compreensivo”, que “transcede as distinções entre terapia cognitiva e terapia comportamental, na medida em que é um modelo racionalizado comportamentalmente, podendo incorporar ambos os conjuntos de técnicas ” (Hayes, 1987, p.342).
Com base no que foi visto até agora, uma diferença entre cognitivistas e behavioristas parece estar no nível de rigor científico que permeia os conceitos teóricos de ambos os enfoques. Para os behavioristas radicais, aceitar o uso da palavra “cognição” seria aderir a uma postura dualista, o que constituiria um sério problema metodológico. Deste modo, a referência às reações cognitivas como “comportamentos encobertos” foi uma estratégia brilhante que estendeu o modelo operante à compreensão de fenômenos mais complexos. Cognitivistas-comportamentais também consideram as cognições como um sistema de respostas, mas não de uma forma tão compromissada com contingências e com termos precisamente impostos. Embora preocupados com validade empírica e expressão de conceitos operacionais, eles não são tão rigorosos do ponto de vista científico.
Behavioristas radicais costumam ser bem mais flexíveis na aplicação de técnicas terapêuticas do que na construção de suas teorias ao adotarem um ecletismo técnico assumido. O modelo de tratamento de Hayes citado neste artigo constitui uma ilustração deste tipo de intervenção, principalmente pela inclusão de procedimentos da gestalt-terapia. Talvez este ecletismo técnico seja uma forma de suprir as limitações impostas pelo rigor metodológico do behaviorismo radical.
Outra diferença encontrada entre cognitivistas e behavioristas está na ênfase dada às contingências ambientais e às cognições. Enquanto o primeiro grupo busca encontrar crenças subjacentes para entender de que maneira as reações cognitivas influenciadas pelas afetivas/fisiológicas e comportamentais, o segundo processo procura saber que tipos de contingências levariam um comportamento a ocorrer e a influenciar outro comportamento. Deste modo behavioristas radicais enfatizam a determinação ambiental na compreensão dos comportamentos (abertos e encobertos) do indivíduo, enquanto cognitivo-comportamentais priorizam os processos cognitivos, considerando que o homem reage a um ambiente percebido e não a um um ambiente real.
Possivelmente outras diferenças seriam apontadas neste texto, caso houvesse mais espaço.
Caberia aqui levantar algumas questões que ficarão em aberto para o leitor refletir a respeito: seriam as diferenças entre abordagens cognitivo-comportamentais e behavioristas radicais tão significativas a ponto de estas se excluírem na compreensão e tratamento de problemas clínicos? Não seriam a ocorrência de diferentes posturas dentro de uma mesma abordagem, em função do crescimento desta culpa? A “disputa” entre estes dois enfoques não deveriam ser considerada positiva para o desenvolvimento de ambos?

REFERÊNCIAS:
ALVAREZ,M.P.(1991). El sujeito en la modificación de conduta: Um Análisis Conducista. In V.E. Caballo (Ed). Manual de Técnicas de Terapy y modificación de Conduta. Madrid: Siglo XXXI de España Editores.
BECK,A.T; RUSH, A.J; SAHW,B.F. & EMERY,G. (1982). Terapia da Depressão. Rio de Janeiro: Zahar.
BECK,A.T. & EMERY,G. (1985). Anxiety Disorders and Phobias – cognitive Perspective, New York: Basic Books.
DOBSON,K.S. & BLOCK,L. (1988). Historical and Philosophical Bases of The Cognitive-Behaviorial Therapies. In K.S. Dobson (Ed). Handbook of Cognitive-Behahaviorial Therapies. New york: Guilford Press.
DE RUBEIS,R.J. & BECK A.T. (1988). Cognitive Therapy. In K.S. Dobson (Ed). Handbook of Cognitive Behaviorial Therapies. New York: Guilford Press.
FREEMAN,A; PRETZER,J; FLEMING, B. & SIMON,K.M. (1990). ClinicalApplications of Cognitive Therapy. New York: Plenum Press.
HAWTON,K; SALKOVSKIS,P.M; KIRK,J. & CLARK,D. (1989). The development and Principles of Cognitive-Behavioural Treatments. In K. Hawton; P Salkovskis; J. Kirk & D. M. Klark (eds). Cognitive behaviour Therapy for Psychiatric Problems, A Practical Guide. Oxford: Oxford University Press.
HAYES,S.C. (1987). A Contextual Approach to Therapeutic Change. In N.S. Jacobson (Ed). Psychotherapists in Clinical Practice. New York: Guilford Press.
MAHONEY, M. (1974). Cognition and Modification. Cambridge, Mass: Ballinger Publishing Company.
MAHONEY, M. (1988). The Cognitive Sciences and Psychotherapy: Patterns in a Devoloping. Relationship. In K.S. Dobson (Ed). Handbook of Cognitive Behavioural Therapies. New York: Guilford Press.
THYER, B.A. (1982). The Term “Cognitive-Behavior Therapy” is Redundant. The Behavior Therapist,15,112.
Inpa – Instituto de Psicologia Aplicada, Brasília, DF.

Fonte: https://www.inpaonline.com.br/

Diferença Entre a Psicologia Comportamental e a Análise do Comportamento


Diferença Entre a Psicologia Comportamental e a Análise do Comportamento
ANDERSON DE MOURA LIMA
A Psicologia Moderna é uma área do conhecimento que em 2009 fará 130 anos. Fundada em 1879 quando o alemão Wilhelm Wundt criou o primeiro instituto de psicologia experimental dotado de laboratórios na Universidade de Leipzig em seu país é uma área muito ampla que possui diversas escolas de pensamento, áreas de pesquisa e que pode se aplicada em diversos contextos. Muitos leigos, estudantes e até mesmo profissionais de Psicologia em decorrência dessa amplitude confundem os conceitos de Psicologia Comportamental e Análise do Comportamento. A maioria acredita se tratarem da mesma coisa.
O objetivo deste artigo é mostrar que a Análise do Comportamento é uma área definida do conhecimento humano enquanto o termo “Psicologia Comportamental” é uma palavra genérica que não diz muita coisa. No máximo podemos dizer que a Análise do Comportamento está inclusa dentro da Psicologia Comportamental não significando, portanto que são a mesma área.
Starling (2003), uma dos maiores Analistas do Comportamento do Brasil, afirma que
 “‘Psicologia Comportamental’ é uma denominação excessivamente genérica. De uma maneira imprópria, esta denominação pode englobar visões de mundo, pressupostos e conjuntos tecnológicos muito diferentes, muitas vezes incompatíveis entre si, tais como, por exemplo, o behaviorismo primitivo tal como formulado por Watson em 1913 e conhecido como Behaviorismo S-R, o behaviorismo mentalista de Hull e o behaviorismo mediacional de Tolman, a análise do comportamento de inspiração skinneriana, o neobehaviorismo metodológico que encontra sua expressão mais madura nos cognitivismos contemporâneos, o conjunto eclético e empirista das chamadas ‘comportamentais-cognitivas’ e ainda outras práticas que eventualmente usam o adjetivo ‘comportamental’ para qualificar, muitas vezes inapropriadamente, o seu substantivo. Assim, embora de uso comum por profissionais estranhos à área, a denominação ‘psicologia comportamental’ simplesmente não faz sentido e não se pode saber o que se deve entender por ela”.
Com respeito á Análise do Comportamento Starling (2003) afirma que “a Ciência do Comportamento [Análise do Comportamento] constitui um campo disciplinar por direito próprio, uma ciência natural, com afinidades epistemológicas, conceituais e metodológicas com a física, a química e a biologia contemporâneas”.
Falcone (2004) ao diferenciar a prática clínica de Analistas do Comportamento (também chamados de Behavioristas Radicais) e dos Psicólogos Cognitivistas - Comportamentais afirma que
“Uma diferença entre cognitivistas e behavioristas parece estar no nível de rigor científico que permeia os conceitos teóricos de ambos os enfoques. Para os behavioristas radicais, aceitar o uso da palavra ‘cognição’ seria aderir a uma postura dualista, o que constituiria um sério problema metodológico. Deste modo, a referência às reações cognitivas como ‘comportamentos encobertos’ foi uma estratégia brilhante que estendeu o modelo operante à compreensão de fenômenos mais complexos. Cognitivistas-comportamentais também consideram as cognições como um sistema de respostas, mas não de uma forma tão compromissada com contingências e com termos precisamente impostos. Embora preocupados com validade empírica e expressão de conceitos operacionais, eles não são tão rigorosos do ponto de vista científico. [...] Outra diferença encontrada entre cognitivistas e behavioristas está na ênfase dada às contingências ambientais e às cognições. Enquanto o primeiro grupo busca encontrar crenças subjacentes para entender de que maneira as reações cognitivas influenciadas pelas afetivas/fisiológicas e comportamentais, o segundo processo procura saber que tipos de contingências levariam um comportamento a ocorrer e a influenciar outro comportamento. Deste modo behavioristas radicais enfatizam a determinação ambiental na compreensão dos comportamentos (abertos e encobertos) do indivíduo, enquanto cognitivo-comportamentais priorizam os processos cognitivos, considerando que o homem reage a um ambiente percebido e não a um ambiente real”.
Se levarmos em consideração essas colocações perceberemos que é um erro teórico confundir Psicologia Cognitiva - Comportamental ou Comportamental - Cognitiva com Análise do Comportamento.
No máximo podemos dizer que a Psicologia Cognitva-Comportamental é um tipo de Psicologia Cognitiva que se utiliza intensivamente de tecnologia criada pela Análise do Comportamento, mas que apesar disso continua sendo um tipo de Psicologia Cognitiva, pois não é embasada pelo Behaviorismo Radical - a filosofia de ciência que embasa a Análise do Comportamento.
Esse tipo de Behaviorismo é radical por que nega que os eventos mentais causam o comportamento humano e que aqueles tenham uma natureza diferente destes. Assim nega a existência de todos os eventos que não tenham uma explicação natural e aceita, obviamente, todos os eventos que tenham essa propriedade.
A Análise do Comportamento é uma Ciência Natural que se divide em três partes
“O seu braço teórico, filosófico, histórico, seria chamado de Behaviorismo Radical. O braço empírico seria classificado como Análise Experimental do Comportamento. O braço ligado à criação e administração de recursos de intervenção social seria chamado de Análise Aplicada do Comportamento”. (TOURINHO, 1999 apud CARVALHO NETO, 2002)
Uma das marcas mais interessante da Análise do Comportamento é sua aplicação que está difundida em vários contextos. Starling (2003) afirma que a Análise do Comportamento é constituída de várias áreas de intervenção
“Da Modificação do Comportamento, da Intervenção Clínica Analítico-comportamental, da Tecnologia do Ensino, da Análise Comportamental das Organizações (Organizational Behavior Management ou Performance Appraisal), da Medicina do Comportamento e da Análise Funcional da Enfermidade (contextos médico-hospitalares) além de aplicações particularizadas, tais como em problemas sociais (Behavior Analysis for Social Action), autismo, engenharia de segurança, marketing, etc.”
O mais importante de tudo é entendermos que não podemos falar do que não sabemos. A psicologia brasileira e especialmente a piauiense carece muito de aprofundamento teórico e na grande maioria das vezes os erros cometidos por estudantes e profissionais de Psicologia derivam da falta de leitura e compreensão das escolas de pensamento que fazem a Psicologia.
Starling (2003) afirma que
“É somente através do conhecimento da matriz conceitual como um todo, na plena articulação dos seus componentes, que se pode apreciar criticamente a ciência do comportamento [Análise do Comportamento] e talvez por isso, e por ser um campo lingüístico muito recente (tem menos de 50 anos), é uma proposição ainda virtualmente desconhecida, mesmo no meio profissional da psicologia e áreas afins. O pouco que habitualmente se conhece – e se critica - restringe-se o mais das vezes a um entendimento fragmentário do primitivo Behaviorismo S-R (estímulo-resposta), já há muitas décadas de interesse somente histórico para o analista do comportamento.”

Fonte: https://psicologado.com.br/abordagens/comportamental/diferenca-entre-a-psicologia-comportamental-e-a-analise-do-comportamento
© Psicologado.com.br

O que é o TOC e quais são os seus sintomas

Medos exagerados de se contaminar, lavar as mãos a todo o momento, revisar diversas vezes a porta, o fogão ou o gás ao sair de casa, não usar roupas vermelhas ou pretas, não passar em certos lugares com receio de que algo ruim possa acontecer depois, ficar aflito por que as roupas não estão bem arrumadas no guarda-roupa, ou os objetos não estão exatamente no lugar em que deveriam estar, são alguns exemplos de sintomas característicos  de  um transtorno: o transtorno obsessivo-compulsivo ou TOC e que são popularmente conhecidos como "manias" (de limpeza, de verificar as portas, de arrumação)


O que é o TOC

O TOC é um transtorno mental caracterizado pela presença de obsessões, compulsões ou ambas. As obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens indesejáveis e involuntários, que invadem a consciência causando acentuada ansiedade ou desconforto e obrigando o indivíduo a executar rituais ou compulsões que são atos físicos ou mentais realizados em resposta às obsessões, com a intenção de afastar ameaças (contaminação, a casa incendiar), prevenir possíveis falhas ou simplesmente aliviar um desconforto físico. No TOC os indivíduos procuram ainda evitar o contado com determinados lugares (por exemplo, banheiros públicos, hospitais, cemitérios), objetos que outras pessoas tocam (dinheiro, telefone público, maçanetas) ou até mesmo pessoas (mendigos, pessoas com algum ferimento) como forma de obter alívio dos seus medos e preocupações. São as evitações.

Os sintomas do TOC

Uma das características intrigantes do TOC é a diversidade dos seus sintomas (medos de contaminação/lavagens, dúvidas excessivas seguidas de verificações, preocupação exagerada com ordem/simetria ou exatidão, pensamentos de conteúdo inaceitável (violência, sexuais, ou blasfemos), compulsão por armazenar objetos sem utilidade e dificuldade em descarta-los - ou colecionismo). Um mesmo indivíduo pode apresentar uma diversidade de sintomas, embora geralmente exista um que predomine.

O diagnóstico do TOC

Para  que seja estabelecido o diagnóstico de TOC é necessário que as obsessões ou compulsões consumam um tempo razoável (por exemplo, tomam mais de uma hora por dia) ou causem desconforto clinicamente significativo, ou comprometam a vida social, ocupacional, acadêmica ou outras áreas importantes do funcionamento do indivíduo. Os sintomas obsessivo-compulsivos não podem ser atribuídos ao efeito fisiológico direto de uma substancia (p.ex. droga de abuso ou a uma medicação) ou a outra condição médica como doenças psiquiátricas, que também podem ter entre seus sintomas - obsessões e ou compulsões (por exemplo: dependência a drogas, comer compulsivo, jogo patológico). As obsessões e compulsões também  não podem ser consequência de doenças neurológicas.

Epidemiologia

Considerado raro até a pouco tempo, o TOC é um transtorno mental bastante comum, acometendo aproximadamente um em cada 40  a 60 indivíduos ou ao redor de 2,5% das pessoas ao longo da vida, ou ao redor de 1% em determinado momento. No Brasil, é provável que existam ao redor de 2 milhões de indivíduos com o transtorno. Seu início em geral é na adolescência mas, não raro, na infância. Os sintomas podem ser de intensidade leve, mas não raro são muito graves e até incapacitantes. O TOC tende a ser crônico, com os sintomas crescendo ou diminuindo de intensidade ao longo do tempo. Se não tratado pode acompanhar o indivíduo ao longo de toda a sua vida, pois raramente melhora espontaneamente.

Por que o TOC é importanteO TOC é considerado uma doença mental importante por vários motivos: é um transtorno bastante comum, que  começa geralmente muito cedo - muitas vezes ainda na infância e em geral na adolescência.  Se não for tratado é raro o desaparecimento espontâneo dos sintomas que tendem se manter por toda a vida com flutuações na intensidade, com períodos em que praticamente desaparecem, seguidos de outros em que retornam com grande intensidade.
Os sintomas não raro são muito graves e incapacitantes, causa sofrimento e interferência significativa nas relações sociais e familiares e no desempenho ocupacional. Pesquisas apontam que pessoas com TOC tendem a ser divorciadas, desempregadas, de baixo nível sócio econômico e ainda costumam utilizar mais os serviços de saúde do que a população geral.
Considerado raro até a pouco tempo, sabe-se hoje que o TOC é um transtorno mental bastante comum, acometendo entre 1,6 a 2,3% das pessoas ao longo da vida, ou 1.2% no período de 12 meses. Um estudo realizado em nosso meio verificou uma prevalência de 3,3% de TOC e 18,3% de sintomas obsessivo-compulsivos em alunos do ensino médio em Porto Alegre.No entanto, apesar desses altos índices, apenas um reduzido número de adolescentes já havia sido diagnosticado com TOC anteriormente à pesquisa (9,3%) e um percentual ainda menor recebia tratamento para a doença (6,7%).Calcula-se que aproximadamente um em cada 40 a 60 indivíduos na população apresenta o TOC e é provável que no Brasil existam entre 3 e 4 milhões de pessoas acometidas pela doença.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o TOC é o quarto transtorno psiquiátrico mais comum, precedido apenas pela depressão, fobia social e abuso de substâncias. Foi considerado a quinta causa de incapacitação em mulheres dos 15 aos 44 anos nos países em desenvolvimento,sendo responsável por 2.2% da incapacitação por doenças em geral.
 Os sintomas não raro são muito graves e em aproximadamente 10% dos casos, os pacientes se tornam incapacitados para o trabalho, tornando-se inteiramente dependentes da família tanto no sentido financeiro como para a tomada das decisões mais banais. Um bom número de indivíduos afetados gasta uma partesignificativa do tempo de suas vidas na execução de rituais inúteis ou envolvidos em dúvidas e medos obsessivos. Em alguns casos o tempo consumido chega a um terço dos anos de vida ou até mais. O TOC está associado a um alto índice de demissões no trabalho em razão da interferência dos sintomas na produtividade. Está associado também a uma taxa maior de insucesso em levar adiante uma carreira, comprometendo portanto, de forma inequívoca, a vida do indivíduo e de sua família. Os indivíduos com TOC apresentam sérias dificuldades para conviver com as outras pessoas, para namorar e constituir sua própria família,tendo como consequências o isolamento social e a depressão.
Apesar das marcadas interferências na capacidade de viver o TOC ainda costuma ser sub-diagnosticado e muitos pacientes não buscam tratamento ou demoram muito tempo para fazê-lo. Estudo multicêntrico realizado no Brasil apontou que o tempo médio entre o início dos sintomas e a busca por tratamento em amostra de adultos pode chegar até 18,1 anos. Isto pode acontecer pelo fato de que o transtorno nem sempre é reconhecido como tal pelos indivíduos afetados ou por seus familiares, por ser ainda pouco investigado pelos profissionais da saúde quando fazem a avaliação dos seus pacientes e pelo receio que muitos indivíduos afetados apresentam de expor seus sintomas por vergonha e medo de serem ridicularizados e de sofrerem possíveis humilhações.
Os sintomas do TOC interferem de forma acentuada na vida da família que se sente obrigada a alterar rotinas, e seu funcionamento, a acomodar-se aos sintomas, muitas vezes participando dos rituais. É comum a restrição ao uso sofás, camas, roupas, toalhas, louças e talheres, bem como ao acesso a determinados locais da casa. Outros problemas típicos são a demora no banho, as lavagens excessivas das mãos, das roupas e do piso da casa. Em razão dessas exigências e imposições geral, são comuns as discussões e atritos, no sentido de não interromper os rituais ou de participar deles, dificuldades para sair de casa, atrasos, que comprometem em especial o lazer e a vida social da família. O TOC acaba, portanto, tendo repercussões sobre toda a família. Não raramente, os conflitos e dificuldades de relacionamento provocam a separação ou o divórcio de casais ou a demissão de empregos.
Por todos esses motivos o deve ser considerado um transtorno mental grave comparável em gravidade e em anos de incapacitação a transtornos psiquiátricos como a esquizofrenia e o transtorno bipolar, e como um importante problema de saúde.
Fonte: http://www.ufrgs.br
Preocupar-se excessivamente com sujeira, lavar as mãos a todo o momento, evitar o  uso de banheiros públicos, revisar repetidas vezes a porta, o fogão ou o gás antes de sair de casa ou ao deitar, necessidade exagerada de arrumar as coisas, ter medo de passar perto de cemitérios, funerárias ou de usar certas cores de roupa com medo de que possa acontecer algo de muito ruim, ser atormentado por dúvidas intermináveis ou por pensamentos "horríveis" são alguns dos inúmeros sintomas do Transtorno Obsessivo-Compulsivo ou TOC. Conhecidas popularmente como "manias" essas manifestações atormentam milhares de pessoas em todo mundo.  Muitas vezes são leves e quase imperceptíveis, mas não raro, são extremamente graves, podendo incapacitar a pessoa para o trabalho e impedí-la de relacionar-se socialmente.  Em geral elas são acompanhadas de ansiedade, medo e culpa, causam muito sofrimento, tomam tempo da pessoa e interferem nas rotinas pessoais, na vida social e da família. Muitas vezes não são reconhecidas como sintomas de uma doença o que faz com que as pessoas afetadas não busquem tratamento ou demorem muito para fazê-lo. 
Aristides Volpato Cordioli
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Translator