Alzheimer: O que fazer e o que não fazer!











tags: doença de Alzheimer, sintomas, Alzheimer tratamento, cuidadores, dicas aos cuidadores, o que não fazer, como cuidar, orientações para Alzheimer, dicas em demências, como cuidar nas demências, cuidar no Alzheimer

Por Maramélia Miranda ** (Atualizado em Setembro de 2016)

Aos cuidadores, familiares, pessoas que moram ou convivem com pacientes que tem o diagnóstico de Demência por Doença de Alzheimer, ou outros tipos de demência menos comuns, abaixo relaciono uma listinha do que devemos e do que não devemos fazer no cuidado diário destas pessoas.

Tarefas da vida diária: Deixá-los dependentes, ou independentes?!
Nos estágios mais leves e iniciais, os cuidadores e familiares podem, e DEVEM!!! Devem tentar manter os portadores de demências o máximo independentes possível, respeitando, é claro, o que poderão realizar de atividades de vida diária.
A reação inicial, por instinto protetor, e como forma de cuidar, proteger ou ajudar poderia ser, por exemplo, tentar ajudar o doente em tudo!!! Está errado! O cuidar é mais complexo nestes casos. Às vezes, melhor cuidar significa tentar fazer a pessoa doente fazer aquela tarefa… Ajudando-a apenas quando é preciso. Portanto,a seguir relatamos algumas diquinhas importantes:

No dia-a-dia…

* Crie uma rotina – Planejando o dia, os horários, de alimentar-se, almoçar, tomar os remédios, banhar-se, vestir-se, passear na rua, ou no jardim, etc, cria uma ordem, e menor confusão na mente dos idosos com Alzheimer, ou com outros tipos de demência.

* “Muita calma nessa hora” – Ter calma é uma das regras básicas para os cuidadores e famílias de idosos com demências. É óbvio que eles não irão se vestir no mesmo tempo que você se veste. Se você ou o cuidador são impacientes, o que acontecerá? Você ou quem cuida tenderá a fazer a atividade pela pessoa, como, por exemplo, se vestir ou escovar os dentes, ou tomar o banho. Isso cria um ciclo vicioso, onde o doente perderá lentamente a capacidade de fazer ou ajudar a fazer aquela tarefa. Você ou o cuidador pensará: “Ganho tempo vestindo-o mais rápido”. Doce ilusão. Você o acostumará a não fazer aquilo, e depois de algumas semanas, você terá mais trabalho, e ele (ou ela) não te ajudará em mais uma coisa, e a tendência é tudo piorar. É uma verdadeira bola de neve. Moral da história? Tenha calma, e deixe que o doente faça o MÁXIMO de coisas que possa fazer, mesmo que com sua pequena supervisão… Confie em mim… Isso fará com que o declínio para fazer estas tarefas seja mais lento.
* Limite as escolhas possíveis – Se for o caso de uma escolha de roupas, por exemplo, não mostre o armário todo, e prefira dar duas opções de camisa ou calça, ou vestimenta, por exemplo. O idoso, que já está meio confuso por causa da doença, irá te agradecer por você facilitar a mente dele. Para mulheres, por exemplo, não transforme a escolha de um acessório num transtorno; elimine escolhas como brincos ou colares, cintos ou correntes, etc. Quanto menores as opções, mais fáceis as escolhas e o trabalho mental dos doentes, e menor a possibilidade de se criar irritação e confusão mental, ou agitação nestas horas…

* Oriente instruções simples – Ao orientar como fazer uma tarefa, não instrua tudo de uma vez. Um passo de cada vez facilitará o seu trabalho como cuidador, e o entendimento do paciente. E poderá evitar, inclusive, que este fique nervoso, irritado em não conseguir fazer o que no passado conseguia mais facilmente.

* Reduza distrações durante uma tarefa – Ao comer, se possível, desligue a TV; ao vestir o doente, por exemplo, evite conversar sobre outro assunto; tentar fazer uma tarefa de cada vez, sem arrumar outras distrações durante aquela ação, facilita o fazer para o paciente, e agiliza o terminar da tarefa para o cuidador.

* Seja flexível quando precisar mudar algo – Se o doente não gosta mais daquela comida, ajuste o cardápio; se só quer agora usar a mesma roupa todos os dias, tente comprar outras roupas semelhantes, até mesmo iguais, e durante o banho dele, troque a roupa suja pela nova igualzinha… Esqueça de tentar convencê-lo do contrário, quando o doente insistir fixamente naquela ideia. Não se desgaste, nem desgaste a pessoa doente.

Na segurança…

* Previna quedas – Evite ter tapetes pela casa, muitos móveis atrapalhando o caminho, espaços pequenos e apertados, caminhos muito sinuosos. Se puder, instale barras para ajudar a pessoa a se equilibrar e evitar quedas, em locais mais críticos (como banheiros, escadas, corredores longos, ou nos boxes dos banheiros, por exemplo).

* “Armas” domésticas – Não deixe medicamentos, álcool, fogo, armas de fogo (revólveres, por exemplo), ferramentas pesadas ou utensílios domésticos mais perigosos, como facas e garfos afiados, ao alcance de pessoas com demência. Ou você deve arrumar uma fechadura para os armários e gavetas contendo isso, ou deixe-os em local inacessível ou desconhecido da casa.

* Queimaduras com água – Mantenha a temperatura do aquecimento da água em nível ameno. Isso previne queimadura em alguma situação imprevisível (por exemplo, o doente ir banhar-se sem sua ajuda).

Agitação e agressividade

Esta é uma das principais queixas de quem cuida de pessoas com demências ou muito idosos, em casas ou hospitais. Os sintomas de agitação, gemência, tremores, inquetação, chegando até mesmo a casos com gritos ou agressividade, são muito, muito frequentes… E vocês, família ou cuidadores, podem evitá-los consultando, inicialmente, o médico que assiste aquele doente, que poderá dar alguma medicação para este controle. Mas além disso, existem algumas medidas tão simples, que podem ajudar imensamente a reduzir que isso ocorra.
Para confusões e agitação…
* Observe se há algum padrão de agitação no seu paciente / familiar – É frequente um horário mais comum quando estes pacientes ficam mais inquietos e agitados. Isso é comum no final do dia, no entardecer, ou começo da noite. Fique atento aos horários mais comuns em que isso ocorre no seu familiar, ou paciente, para informar isso ao médico, e para que possa fazer algumas estratégias de como reduzir isso.
* Medidas simples para reduzir delirium / agitação – Delirium é como médicos e neuros chamam estas agitações frequentes em Alzheimer. Ocorre pela própria doença, e este problema pode ser minimizado com medidas simples, como, por exemplo, deixar a pessoa em local iluminado, arejado, abrindo bem as janelas durante o dia, para que a pessoa perceba que o dia está acabando e a noite irá chegar. Deixar a pessoa fechada, reclusa, sem noção do tempo, piora este sintoma frequente em portadores de demências. Outra coisa legal de se fazer é sempre deixar a pessoa portadora de demência com objetos conhecidos seus, um rádio, um souvenir, seu próprio óculos, ou, por exemplo, quando está fora de sua casa, com seu travesseiro, seu cobertor. Manter a pessoa próximo de sua rotina e de seus pertences dá uma segurança para o portador de demência, e pode reduzir a ocorrência destas agitações.
* Agitação à noite e durante madrugada – É beeeeemmmm frequente. Principalmente se você deixar o vovô ou a vovó dormir um monte durante o dia!!!! É óbvio que o paciente tenderá a trocar o dia pela noite, e a situação pode ficar literalmente infernal para ambas as partes… Nestes casos, sempre lembrar que o dia é para ficar desperto, e a noite é para dormir. Pode dar cochilos? Pode. Mas em horários curtos, no máximo 1-2 horinhas à tarde. Apenas. Se a agitação, gemência, e confusão mental ficarem muito intensas mesmo fazendo estas medidas de não deixar dormir de dia, tem que falar com o médico, para que se prescreva algum remédio sedativo para ajudar na insônia e delirium noturno.

* Medidas simples de higiene do sono – O básico do básico para evitar qualquer tipo de insônia também se aplica para os casos de Alzheimer e outras demências:
— Evitar grandes refeições em horários muito tarde da noite; Evitar alimentos e bebidas psicoestimulantes (açucar, chocolates, cafeína, chás fortes, etc). Evitar ter TV dentro do quarto de dormir. Evitar contato com celulares e computadores; Evitar locais barulhentos. Instalar janelas anti-ruídos, se o local da casa ou apartamento for muito barulhento; Se possível e o paciente gostar, usar músicas relaxantes no horário do sono…

** Dra. Maramélia Miranda é neurologista com formação pela UNIFESP-EPM, editora do blog iNeuro.com.br.
Fontes:
http://www.ineuro.com.br/

Imagem: http://cefal-unifal.blogspot.com.br/

Por que falas sem sentido são comuns em idosos com Alzheimer?


velhinhos

“- Em que país nós estamos?
– Porque a única coisa que a gente faz é levantar de manhã!”
A conversa acima parece bem estranha, certo? Essa conversa foi citada como um exemplo de fala bizarra de pacientes que sofrem com demência de Alzheimer, em uma pesquisa realizada por Trahan, Donaldson, McNabney e Kahng (2014). Frases aparentemente sem sentido ou colocadas fora de contexto são um dos sintomas observados em idosos com demência. Quem observa de fora tem a sensação de que essas vocalizações surgem “do nada”. Mas será que é assim mesmo?
Os pesquisadores citados acima desenvolveram uma série de estudos para tentar descobrir se existe algo no ambiente desses idosos que influencie na probabilidade de falas sem sentido acontecerem. Participaram três idosos com demência severa ou moderada que moravam em uma casa de repouso (local onde o experimento foi conduzido). Nos três estudos o experimentador se posicionava um pouco afastado do participante e dizia que ficaria ali trabalhando em alguma atividade.
No primeiro estudo, os pesquisadores criaram três situações: uma em que, quando ocorresse uma fala bizarra o experimentador daria atenção ao participante durante cerca de 10 segundos; uma em que o experimentador pedia para o participante ajudar em alguma tarefa, independente da fala sem sentido ocorrer; e uma em que, a cada 10 segundos o experimentador dava atenção ao participante, independente do que este estivesse fazendo. Os pesquisadores observaram que a quantidade de fala sem sentido, para os três participantes, foi maior na situação em que a atenção era dada, independente do que os participantes estivessem fazendo.
No segundo estudo, os experimentadores estavam interessados em entender se aspectos presentes no ambiente antes de as falas bizarras acontecerem teriam alguma influência em sua ocorrência. Para isso, novamente três situações foram arranjadas: uma em que o experimentador fazia perguntas que requeriam respostas de “sim” ou “não”(ex. “Hoje é segunda-feira?”); outra em que eram feitas perguntas abertas (ex. “Que dia é hoje?); e uma terceira em que o experimentador fazia comentários diversos sobre aspectos do dia-a-dia (ex.: “Hoje é segunda-feira.”), como se estivesse puxando conversa. Os resultados mostraram que na situação em que os participantes deveriam responder questões abertas, o número de falas bizarras foi maior do que nas outras situações.
Por último, os pesquisadores realizaram um estudo em que queriam entender se o que acontecia depois da fala sem sentido poderia influenciar na probabilidade de ela ocorrer novamente. Cinco situações diferentes foram arranjadas. Em quatro delas o experimentador fazia perguntas abertas e em uma delas fazia perguntas que levavam a respostas “sim” ou “não”. As situações com perguntas abertas foram: corrigir o participante depois que ele falasse algo sem sentido; continuar a conversa como se estivesse concordando com a frase dita, mesmo que ela não fizesse sentido; dar um intervalo de 10 segundos na interação com os idosos (lembrando que essa interação consistia em fazer perguntas) quando a fala bizarra acontecesse; e fazer uma nova pergunta após a resposta com fala bizarra. Os resultados mostraram que não houve diferença na quantidade de falas bizarras nas quatro situações com perguntas abertas e, novamente, na situação que envolvia respostas de “sim/não”, a ocorrência desse tipo de fala foi menor.
A partir desses resultados os pesquisadores discutiram que 
(1) a atenção gera maior probabilidade de falas sem sentido. Isso ocorreria, provavelmente, porque ter a atenção de alguém é uma situação propícia para conversa e, com o aumento da probabilidade do conversar viria o aumento da probabilidade de uma fala bizarra acontecer. Além disso 
(2) o tipo de pergunta parece ser uma variável importante. Aparentemente, as perguntas abertas, que requerem respostas mais elaboradas, geram mais falas sem sentido.
Esses resultados os levaram a pensar que pode ser possível aumentar a eficácia da comunicação com idosos com demência, se perguntas mais adequadas forem usadas. Por exemplo, ao invés de perguntar “O que você pretende fazer nesse fim de semana?”, seria mais adequado perguntar “Você pode me dar alguns exemplos de coisas que pretende fazer nesse fim de semana?”. O segundo tipo de pergunta leva a respostas mais objetivas, o que pode ser mais fácil para o idoso.
E sabe do que mais? Nesta pesquisa, nas situações em que os participantes respondiam questões de “sim/não”, em geral outros tipos de vocalizações ocorriam em seguida e, na grande maioria das vezes, era falas que faziam perfeito sentido!
Um aspecto que chamou a atenção dos pesquisadores foi o fato de o que acontecia depois das falas não influenciar na frequência da ocorrência dessas falas no futuro. É sabido que ser sensível às consequências de um comportamento é muito importante para a aprendizagem e manutenção de comportamentos. Por isso o estranhamento em relação a esse resultado! Por outro lado, é também sabido que demências em fase moderada ou severa são resultados de intensas mudanças neurológicas. Talvez essas mudanças gerem uma insensibilidade às consequências e essa insensibilidade seja responsável, em parte, por vários dos sintomas das demências e assim, expliquem esses resultados.
Pesquisas como essas nos dão pistas de como melhorar a comunicação com pessoas com demência moderada e severa, o que reflete diretamente na qualidade de vida dos pacientes e de seus cuidadores.
Quer saber mais!?
Trahan, M. A., Donaldson, J. M., Mcnabney, M. K., & Kahng, S. (2014). The influence of antecedents and consequences on the occurrence of bizarre speech in individuals with dementia. Behavioral Interventions, 29 (4), 286–303.
Postado por Natalia Aggio, pos-doc do Departamento de Psicologia da UFSCar. Bolsista CAPES.

A sobrecarga dos cuidadores de pacientes com Alzheimer





A Doença de Alzheimer é um desafio para os familiares e cuidadores. Pela própria natureza da doença que torna o portador cada vez mais dependente do seu redor, fica claro que o sofrimento da doença não se restringe ao indivíduo diretamente afetado e atinge os que estão à sua volta, modificando a vida de todos. Os vínculos afetivos mais fortes podem se desgastar pelas mudanças financeiras, sociais e psicológicas que a doença determina. Para um tratamento adequado da doença de Alzheimer, precisamos investir no paciente e também ficar atentos para os sinais de cansaço ou estresse emocional que afetam os cuidadores.

Existem muitos motivos para que ocorra uma sobrecarga nos familiares e cuidadores dos pacientes com Alzheimer. O aumento dos gastos financeiros com medicação, fraldas geriátricas, adaptações de acessibilidade, pagamento de cuidadores e até a retirada de um dos familiares do mercado de trabalho para prestar assistência é um dos muitos aspectos. Acompanhar uma doença crônica em seu caminho de deterioração inexorável, desmontando a pessoa que amamos pode dar a sensação de impotência e de fracasso. As mudanças comportamentais que chegam a tornar o idoso agressivo, inquieto, perambulando pela casa à noite ou gritando o dia inteiro podem fazer os cuidadores se questionarem o que fizeram para merecer essa pena. Muitas vezes, chegam a acreditar que o problema é pessoal e que o paciente faz certas coisas de propósito. Essa é uma visão distorcida que gera ainda mais dificuldades.
Nos serviços especializados no atendimento a portadores de Alzheimer fazemos periodicamente uma avaliação sistemática da sobrecarga dos cuidadores. A partir daí, tomamos medidas que podem ser voltadas ao melhor manuseio do paciente, orientamos tratamento da ansiedade ou depressão dos cuidadores e, quando se faz necessário, trazemos a discussão com os responsáveis sobre a possibilidade de transferir o paciente para uma clínica de idosos especializada em Alzheimer.
Apesar da abordagem ativa, continua sendo difícil o acesso aos sentimentos dos cuidadores. Não é raro que muitos passem por problemas sérios antes de procurarem ajuda médica. Temos vários exemplos dessas dificuldades e relataremos alguns.
Às vezes existe um certo embaraço por parte dos cuidadores em externar seu estresse pelo medo de "criar mais um problema" sobre a já complicada situação do paciente. 
Outras vezes o que predomina é a sensação de obrigação de cuidar do pai ou mãe doentes, sem poder esmorecer. Nessas situações, dar sinal de cansaço pode ser percebido pela própria pessoa como uma fraqueza ou incompetência em cumprir as obrigações filiais.
Existem também as situações em que são muitos irmãos intervindo no tratamento do paciente, mas apenas uma pessoa diretamente envolvida no dia-a-dia. O esforço de quem se dedica no cotidiano pode não ser devidamente apreciado pelos demais. O mal-estar de quem cuida efetivamente pode ser visto com descaso por aqueles que se revezam para visitar o doente nos finais de semana. Essa atitude leva a um encolhimento da pessoa sobrecarregada que, não tendo com quem se abrir, vai engolindo o quanto pode.
Não é infreqüente acontecer o oposto do que dissemos. Muitas vezes assistimos a cenários nos quais todos os irmãos se eximiram da responsabilidade e deixaram todos os cuidados para uma filha ou filho que assumiram tudo por não ter outra escolha. Como não têm para quem correr, acreditam que não podem se queixar porque o fardo é deles mesmo e não adianta reclamar. Aquele que ampara fica, ele mesmo, desamparado.
Pode ser que algumas vezes as condições sejam ideais para o tratamento, mas ainda assim há dores e sofrimento. A família pode ter recursos financeiros para absorver os custos da doença. Os filhos do paciente podem ser companheiros e se revezarem efetivamente nos cuidados. O indivíduo doente pode receber o melhor tratamento médico, ajudando a controlar os sintomas comportamentais. Todavia, permanecem elementos desconcertantes e que abalam emocionalmente as pessoas próximas.
Para ilustrar, lembramos a primeira fase que precede o diagnóstico. Nela os familiares convivem com um indivíduo doente sem se darem conta do problema e de sua dimensão. De acordo com a dinâmica da família ou sendo o paciente uma figura forte, fica difícil desautorizar suas atitudes ou fazê-lo reconhecer que não se encontra tão apto para tomar decisões. Dependendo do grau de dominância, o cônjuge e os filhos chegam a se recusar a reconhecer que exista algo de errado até que muitos danos tenham se sucedido.
Outro momento difícil é o da abertura do diagnóstico. A aceitação de uma patologia sem tratamento curativo e a perspectiva de um desenrolar longo e penoso pode não ser complexa e leva à busca de várias opiniões médicas e de tratamentos alternativos de todos matizes. A partir do momento em que a confirmação do problema ocorre, surgem também as questões de cunho legal como a administração dos bens do paciente que deve ser feita em seu benefício por alguém capaz e íntegro.
Ao longo do tempo, com a desestruturação das funções cognitivas e com as alterações de comportamento, os familiares testemunham a gradual desmanchar da personalidade que aprenderam a amar e a respeitar durante a vida. Enfrentar a dependência do pai ou da mãe, cuidar do asseio íntimo, do banho e do vestir também requer ultrapassar a barreira do pudor. Existem os que o fazem pela via da despersonalização, cultivando um certo distanciamento emocional dessas questões nos momentos de execução das tarefas. Outros, seguem pela via do amor e encaram o problema por meio da compaixão. De qualquer forma, o obstáculo precisa ser superado.
Existem ainda uma infinidade de situações que não conseguimos descrever nesse breve espaço, como a privação de sono contínua para cuidar do doente, a perda da privacidade e da vida afetiva em outras esferas, e tantas outras que aprendemos a conhecer e reconhecer com nossos pacientes. O fato é que aqueles que passaram pela experiência de ser cuidador de um paciente com Alzheimer, esses se sentem como tendo feito uma faculdade inteira sobre o problema, tamanha a experiência que acumularam. Mas para alcançar o sucesso nessa jornada é preciso saber pedir ajuda e contar com o auxílio dos profissionais e com a experiência de quem passou por algo semelhante. Aos novatos informamos: a tarefa é grande, mas com as ferramentas certas é possível executá-la.

Fonte: http://www.doutorcerebro.com.br/

Enxaqueca Crônica: conhecer para tratar melhor



A enxaqueca é uma das dores de cabeça mais comuns. Acomete mais de 10% da população e é considerada pela Organização Mundial de Saúde como a 19ª doença no ranking de patologias incapacitantes. Até a puberdade, meninos e meninas são igualmente acometidos, mas depois da primeira menstruação, os fatores hormonais aumentam o risco de enxaqueca entre as mulheres que passam a ser as mais afetadas. Uma coisa importante a saber é que a enxaqueca ou migrânea é uma dor que acontece na forma de crises que duram de 4 a 72 horas e que podem se repetir algumas vezes no mês. Todavia, quando a dor passa a ser mais freqüente, o diagnóstico deve ser modificado para Migrânea Crônica e o tratamento segue uma orientação diferente.
É preciso distinguir a migrânea episódica da migrânea crônica. A forma crônica pode ser uma evolução da tipo episódica que foi aumentando em freqüência e diminuindo em intensidade, passando a ser constante e menos incômoda do que as crises fortes e incapacitantes, características da enxaqueca episódica. A transformação da enxaqueca episódica em enxaqueca crônica pode ocorrer por vários motivos, sendo o abuso de medicação analgésica uma das principais causas.
Na primeira classificação de "migrânea crônica" pela International Headache Society(IHS), uma das condições para a realização do diagnóstico era de que o paciente não tivesse história de abuso de medicação. Depois de algum tempo, especialistas observaram que o critério havia ficado muito restritivo e que muitas pessoas não podiam ser diagnosticadas e não se beneficiariam dos tratamentos propostos. Agora o critério ficou mais amplo e inclusivo, pois considera pacientes com mais de 15 dias de dor de cabeça por mês, independente do uso excessivo de medicamentos para enxaqueca.

Vejamos quais são os critérios da IHS para migrânea ou enxaqueca episódica do tipo comum(sem aura):
A – Pelo menos 5 ataques que preenchem os critérios B a D
B – Ataques de dor de cabeça durando de 4-72 horas (sem tratamento ou com tratamento mal sucedido)
C – Dor de cabeça com pelo menos duas das seguintes características:
  1. Localização unilateral
  2. Qualidade pulsátil
  3. Intensidade de dor de moderada a severa
  4. Agravada por atividade física ou causando evitação de atividade
D – Durante a dor de cabeça, pelo menos 1 dos seguintes:
  1. Náusea e/ou vômito
  2. Fotofobia e fonofobia
E – O quadro não pode ser atribuível a outras doenças
Essas são as características principais e necessárias para o diagnóstico de enxaqueca. Vale salientar que se o paciente toma uma medicação analgésica no início da crise ela pode não se desenvolver completamente e não ter todas as peculiaridades mencionadas. O ideal é que o médico obtenha a descrição de um episódio sem tratamento. Quando as crises de enxaqueca ocorrem menos de 1 vez por semana é possível fazer um tratamento voltado para o controle das crises. Porém, quando o número de crises ou, melhor ainda, o número de dias de dor por mês começa a aumentar estará indicado um tratamento do tipo preventivo ou profilático. Existem vários esquemas eficientes para esses casos e a escolha da terapia baseia-se nas particularidades de cada paciente.
Saindo da condição de enxaqueca com crises raras (na qual se dá tratamento só nos episódios) e de enxaqueca com crises freqüentes(na qual se indica tratamento preventivo), chegamos às situações em que a enxaqueca se torna uma companhia quase diária. Nesses casos, o paciente tem dor em mais de metade dos dias e não necessariamente tem o quadro típico de enxaqueca em boa parte do período. A dor pode ser mais leve, do tipo constante e por toda a cabeça, com dias mais fortes intercalados
.
Vejamos quais são os critérios revisados pela IHS para migrânea ou enxaqueca crônica:
A – Dor de cabeça por 15 dias por mês ou mais, se estendendo por mais de 3 meses.
B – Ocorre em paciente que teve pelo menos 5 ataques que preencheram os critérios de Migrânea comum
C – Em mais de 8 dias por mês, nos últimos 3 meses, o paciente teve crises típicas de enxaqueca ou tratadas eficientemente por medicamentos tipo triptanos.
D – Não existe abuso de medicação e não é atribuível a outras doenças
Na prática, os grandes especialistas em dores de cabeça consideram como migrânea crônica qualquer cefaléia crônica diária, ou seja, com mais de 15 dias de dor/mês nos últimos 3 meses, tendo ou não história de abuso de medicamentos e que tenham atualmente ou no passado episódios típicos de enxaqueca. O conceito fica mais aberto e inclui pacientes com antecedentes claros de enxaqueca e que atualmente têm dor com muita freqüência.
Para esses pacientes, o tratamento deve ser bem discutido e os recursos terapêuticos mais avançados, utilizados. A combinação de vários medicamentos é freqüente em tais casos e os esquemas para tratamento de crises são escalonados para que o paciente não precise buscar auxílio no pronto-socorro. Recentemente foi aprovado o uso da toxina onabotulínica tpo A (Botox, Dysport) para tratamento da migrânea crônica. Em alguns pacientes proporciona um grande alívio, em outros se soma ao arsenal terapêutico para melhorar a eficácia geral.
O sucesso do tratamento da enxaqueca depende fundamentalmente de um bom diagnóstico e do uso proficiente dos recursos de tratamento disponíveis. O relacionamento terapêutico adequado entre médico e paciente também é imprescindível. Considerando que uma em cada duas residências possui alguém com enxaqueca, notamos como é necessário transmitir o conhecimento e promover o bem-estar a todos por meio de métodos cientificamente comprovados

Fonte: http://estadoneurologico.blogspot.com.br/
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Translator