Aos pais, mais reais que reis



Identidade feminina
Lúcia Rosenberg escreve sobre a mulher atual

O papel dos pais mudou. Quanto mais eles próprios, seus filhos e suas mulheres aceitarem tal mudança, melhor para todos da família

Agora é a vez dos pais. Vou aproveitar a proximidade da data, embutir a emoção dos 95 anos que o meu faria hoje se ainda estivesse por aqui e falar dessa figura do rei na nossa vida. Sim, inegável, o pai reina enquanto ele mesmo não estragar sendo violento ou omisso. E mesmo assim...

Já sabemos que o papel do pai mudou muito nos últimos 30, 40 anos. Antes, cabia a ele prover e punir. Saía de casa cedo pro trabalho e voltava no fim do dia, cansado – as crianças deviam respeitar isso e não incomodar o papai, a não ser que tivessem aprontado alguma que a mãe iria contar quando ele chegasse. Que ameaça cortante o “deixa seu pai chegar que você vai ver uma coisa”! Por que ela mesma não cuidava do caso na hora e deixava o homem em paz, ué? A gente já esperava o pai com medo, não com alegria. As mães eram delatoras e os pais os algozes – pode deformação maior dos papéis e funções dessa dupla, que deveria ser a raiz de nossa ética e nossa proteção? Havia, então, uma séria confusão entre respeito e medo.

Com a entrada da mulher no mercado de trabalho, os pais tiveram que entrar na vida doméstica – a mãe sai um pouco de cima e o pai entra mais em cena. Bom para todos, esse movimento. A relação com o pai ganhou mais intimidade e ele tornou-se mais amigo das crianças. Antes, pai intimidava; hoje ele pode intimizar. Há algum tempo os pais desempenhavam seu papel sem nenhuma identidade pessoal, ou seja, pouco sabia-se da história de vida desse pai – a não ser o duro-que-deu, ou no-meu-tempo-não-era-assim. Poucos contavam de fato os afetos de sua história de vida, suas travessuras, sustos e artimanhas. As dificuldades superadas, os equívocos, medos e até alguns segredos, pra temperar ainda melhor a intimidade.

Filhos gostam de conhecer o pai que têm. Gostam de saber quais foram suas lutas, por quais causas e contra quais inimigos. Aprendem mais de seus valores e conhecem melhor sua ética; dessa maneira, descobrem que pai também tem medos e impedimentos, que burlaram regras e transgrediram a ordem para mudar algumas coisas. É importante que a figura idealizada do pai se torne mais humanizada – isso vai aproximar pai e filho mais despidos de papéis e expectativas. Aproximam-se mais à medida em que se revelam mais livremente. As falhas dos filhos não são mais sinônimos de fracassos e causas de castigos violentos. Transformaram-se em assuntos para boas e frutíferas conversas onde os tais erros irão pavimentar o caminho do aperfeiçoamento e, portanto, aumentar a confiança nessa parceria. O pai é o amigo que orienta, não só a autoridade que cobra e castiga.

Os bebezinhos já não ficam mais escorregando do colo deles – encontraram encaixe e aconchego ali também. Aliás, neste simples gesto de carregar o filho, já podemos notar algo curioso: quem não se lembra de cenas de filmes de rei, quando nascia o herdeiro e o pai, do alto do castelo o erguia orgulhoso, como que exibindo a cria para o mundo? Até no “Rei Leão”, da Disney, revela-se esta clássica imagem. O pai é aquele que mostra o mundo para o bebê. As mães trazem os bebês, num longo abraço, para junto do coração. Colo de mãe protege e contém a cria, enquanto o do pai mostra e prepara pro mundo.

Mães, deixem o caminho mais livre para que os homens desenvolvam e aperfeiçoem essa nova paternidade. Economizem críticas e desabonos porque eles não fazem nada do seu jeito. Eles precisam encontrar sua própria maneira de exercer essa deliciosa, longa e difícil tarefa de ser este novo pai. Todos ganharão com isso, creiam.

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