Ser Feliz por Cláudia Santos


Recebi de Cláudia que se acha a "louca" da casa!
Talvez pensando ns palavras de Pablo Neruda ao querer compartilhar a sua identificação. Mas a ilustração e as palavras ornamentam as palavras dela.


Minha Feliz
Tenho uma amiga que é feliz. Se eu tivesse que achar um retrato mais aproximado da felicidade escolheria o dela. Esclareço meu conceito de felicidade (cada um tem o seu, por isso felicidade não se compra, não se vende, não se empresta. E eu pego carona na felicidade da minha Feliz ). É assim meu conceito de felicidade: é sorver, tal qual uma criança, os goles inebriantes da vida. É aproveitar o que a vida lhe oferta, instante após instante, oferendas às quais, na maioria das vezes, a gente nem se toca de havê-las recebido, tão concentrado estamos na busca de uma suposta felicidade que sempre salta pra mais adiante.

Minha amiga Feliz não é rica. Pelo contrário, vive contando os trocados. Raramente vai a um shopping — nem a convido, porque ela vai lançar seu olhar de quase-desprezo. Mas se chamo minha Feliz para me acompanhar num passeio pelos arredores do Plano Piloto, ela entra no carro como uma criança a caminho da sorveteria. Se o convite for para um passeio mais longo, uma ida ao Goiás, ela põe uma muda de roupa e um livro na mochila e está pronta pra ser Feliz.

Minha Feliz me contou que certa vez num dos raros momentos de muita tristeza (Feliz quando fica triste se esconde do mundo, ninguém a alcança), num desses momentos sorumbáticos e solitários, Feliz se encantoou na varanda de casa, entregue aos abismos da infelicidade, quando um passarinho amarelo pousou no corrimão. Feliz entendeu como um agrado dos deuses: em algum lugar alguém cuidava dela. Feliz chorou mais um pouco, se levantou, tomou um banho, esquentou um pão francês com catupiri, fez um café, pegou um caderno e voltou pra varanda: começou a montar um plano de reestabelecimento da felicidade.

Minha Feliz anda de ônibus e sempre tem histórias hilariantes da aventura diária de sacolejar nos monstros ranhetas da capital mais mal servida por transporte urbano de todo o planeta. Sempre apressada, com seus passinhos rápidos, Feliz entrou no ônibus na plataforma inferior da Rodoviária sem conferir se aquele buzu ia mesmo para Valparaíso. Então perguntou ao motorista: “Esse ônibus vai para Valparaíso?”. O motorista, certamente infeliz, respondeu: “Eu não acredito! Será que este ônibus vai para Valparaíso? Deixa eu ver”. Esbravejando, desceu do ônibus, foi lá for a, olhou para o painel, voltou e trovejou: “Vai, minha senhora, este ônibus vai para Valparaíso”. Minha Feliz ficou toda sem jeito, mas não ficou infeliz. Transformou o acontecimento numa história que ela adora contar.
Minha Feliz é das pessoas mais humanas que a vida me deu o privilégio de conhecer. Tem um sentimento de solidariedade, um respeito à integridade humana e uma preocupação genuína com os miseráveis nos quais me espelho, pra eu me lembrar de que pra ser feliz é preciso esquecer um pouco (ou até muito) de si mesmo.
Raras vezes ouvi Minha Feliz falar mal de alguém. E quando o faz cerca o malfalado de tantos cuidados que fica o dito pelo não dito.

Minha Feliz é generosa com o mundo, mas ela não se ilude: o mal está à solta por aí.

Minha Feliz me ensinou: Conceição , não tem outro jeito. É ser feliz ou ser feliz

Fonte imagem: http://frasesilustradas.wordpress.com/

Fonte da frase: Pablo Neruda (Parral, 12 de Julho de 1904 — Santiago, 23 de Setembro de 1973) foi um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX.

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