Dificuldades das funções executivas são os sintomas que melhor identificam déficit de atenção entre adultos



Uma pesquisa publicada na última edição do periódico Archives of General Psychiatry sugere que os atuais critérios para o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) entre adultos devem ser modificados para a próxima edição do Manual Estatístico e Diagnóstico dos Transtornos Mentais (DSM V), com a incorporação de mais sintomas que reflitam dificuldades nas funções executivas do cérebro.

Dificuldades das funções executivas são os sintomas que melhor identificam déficit de atenção entre adultos

Após entrevista de cerca de 350 adultos, os resultados apontaram que 45.7% dos adultos que apresentaram o diagnóstico de TDAH na infância persistiram com o transtorno na idade adulta, sendo que o déficit de atenção foi bem mais persistente do que a hiperatividade: 95% e 34.6% respectivamente. Apesar da maior persistência do déficit de atenção, esse é um sintoma frequentemente associado a outros transtornos psiquiátricos e teoricamente não deveria ser considerado um forte critério que discrimina o diagnóstico de TDAH desses outros problemas.

O resultado mais importante da presente pesquisa foi a demonstração de que sintomas que refletem problemas de funções executivas, como é o caso do planejamento e capacidade de resolução de problemas, são os mais específicos e que melhor auxiliam no diagnóstico do TDAH em adultos. Três dos atuais critérios (DSM IV) dizem respeito à dificuldade de funcionamento executivo (dificuldade em organizar as tarefas, cometre erros por descuido, perder muito as coisas). Entretanto, a presente pesquisa mostrou que outros sintomas de disfunção executiva, ainda não incluídos nos atuais critérios, têm grande potencial de incrementar a nova classificação. Entre eles podemos destacar: dificuldade de planejamento e a incapacidade de definir prioridades.

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem sido bastante explorado entre as crianças e só recentemente passou também a ser melhor entendido nos adultos. Estima-se que cerca de 60% das crianças com diagnóstico de TDAH continuam a apresentar os sintomas (desatenção, inquietude, impulsividade) durante a adolescência e idade adulta. Entretanto, o diagnóstico de TDAH nos adultos ainda é um tema controverso, especialmente no que diz respeito aos seus critérios diagnósticos.

Pesquisas demonstram que 3.5% dos adultos inseridos no mercado de trabalho podem ser classificados como portadores de TDAH. Esses indivíduos apresentam mais absenteísmo e menos desempenho no trabalho quando comparados a indivíduos sem TDAH. Apesar de apenas uma minoria receber tratamento específico, uma grande proporção é tratada por outros transtornos mentais, considerados como comorbidades: problemas que são mais comuns entre os que têm diagnóstico de TDAH, como é o caso de ansiedade, depressão e abuso e dependência de substâncias psicoativas.

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Por Ricardo Teixeira

Doutor em neurologia e pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Dirige o Instituto do Cérebro de Brasília e é o autor do Blog “ConsCiência no Dia-a-Dia”.

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