O poeta da minha terra

A Lagartixa

A um só tempo indolente e inquieta, a lagartixa,
Uma réstia de sol buscando a que se aqueça,
À carícia da luz toda estremece e espicha
O pescoço, empinando a indecisa cabeça.

Ei-la aquecendo ao sol; mas de repente a bicha
Desatina a correr, sem que a rumo obedeça,
Rápida num rumor de folha que cochicha
Ao vento, pelo chão, numa floresta espessa.

Traça uma reta, e pára; e a cabeça abalando,
Olha aqui, olha ali; corre de novo em frente
E outra vez, pára, a erguer a cabeça, espreitando…

Mal um inseto vê, detém-se de repente,
Traiçoeira e sutil, os insetos caçando,
A bater, satisfeita, a papada pendente…

Em: Poesias completas, Da Costa e Silva, Nova Fronteira: 1985, Rio de Janeiro

Impressões sobre “Saudade”, de Da Costa e Silva.

Saudade! Olhar de minha mãe rezando
E o pranto lento deslizando em fio...
Saudade! Amor da minha terra... O rio
cantigas de águas claras soluçando.

Noites de junho... O caburé com frio,
ao luar, sobre o arvoredo, piando, piando...
E, ao vento, as folhas lívidas cantando
a saudade imortal de um sol de estio.

Saudade! Asa de Dor do Pensamento
Gemidos vãos de canaviais ao vento...
As mortalhas de névoa sobre a serra.


Saudade! O Parnaíba - velho monge
as barbas brancas alongando... E ao longe,
o mugido dos bois da minha terra...



Antonio Francisco da Costa e Silva – (Amarante, Piauí, 1885 – Rio de Janeiro, 1950) Poeta. Começou a compor versos por volta de 1896, tendo seus primeiros poemas publicados em 1901. Todavia, seu primeiro livro de poesia, Sangue, foi lançado só em 1908, primeira obra da última geração simbolista. . Formou-se pela Faculdade do Direito do Recife. Foi funcionário do Ministério da Fazenda, tendo ocupado os cargos de Delegado do Tesouro no Maranhão, no Amazonas, no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Viveu não só na capitais desses estados, mas também, por mais de uma vez, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. Jornalista. Exerceu função pública na Presidência da República do Brasil, entre 1931 e 1945, a pedido do então presidente Getúlio Vargas. É o autor da letra do hino do Piauí. Recolheu-se ao silêncio, demente, pelos últimos 17 anos de vida. Faleceu em 29 de junho de 1950.


Fontes:
www. alfredowerney.blogspot.com/
http://peregrinacultural.wordpress.com
www.chapadadocorisco.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fico feliz que comente e venha me visitar!
Um grande Abraço e Volte sempre!
Obrigada.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Translator